Residência em Medicina da Família: formação, desafios e oportunidades

A residência em medicina da família e comunidade (MFC) tem ganhado destaque no cenário da saúde brasileira, refletindo a crescente valorização da atenção primária.

Afinal, o médico que planeja trabalhar no programa Médicos pelo Brasil, que substituiu o programa Mais Médicos, deve ficar atento. A residência médica em Medicina da Família e Comunidade é obrigatória.

E, mais, há um forte movimento na saúde suplementar pelo resgate da Atenção Básica da Saúde onde atuam os médicos de família. Por isso, abordamos a formação, os desafios e as oportunidades dessa especialidade, essencial para a promoção de uma saúde integral e contínua.

O melhor é começar a saber um pouco mais da especialidade para ter a certeza de que ela combina com o seu perfil e com o que você espera do futuro profissional. Vamos lá?

Como é a residência de Medicina da Família e Comunidade?

A residência em MFC é um programa de formação médica de acesso direto, com duração de dois anos e carga horária de 60 horas semanais.

O objetivo é capacitar médicos para atuarem na atenção primária, oferecendo cuidados abrangentes e contínuos aos indivíduos e suas famílias, independentemente da idade ou gênero.

A Residência Médica em Medicina da Família e Comunidade forma um especialista cuja característica básica é atuar, prioritariamente, em Atenção Primária à Saúde.

O atendimento ao paciente deverá ser feito com elevado grau de qualidade, sendo resolutivo em cerca de 85% dos problemas de saúde relativos a diferentes grupos etários.

Competências desenvolvidas durante a residência

Durante o programa, os residentes desenvolvem competências essenciais para a prática da MFC, incluindo:

  • Abordagem centrada na pessoa: foco nas necessidades individuais, considerando aspectos biopsicossociais.
  • Promoção e prevenção em saúde: implementação de ações que visam à promoção da saúde e à prevenção de doenças.
  • Gestão do cuidado: coordenação de cuidados integrados, garantindo a continuidade e a integralidade da atenção.
  • Trabalho em equipe multiprofissional: colaboração com outros profissionais de saúde para um atendimento holístico.

Cabe ainda ao médico de família desenvolver, planejar, executar e avaliar programas integrais de saúde, para dar respostas adequadas às necessidades de saúde da população sob sua responsabilidade.

Outro princípio para o médico de família é o de estimular a participação e a autonomia dos indivíduos, das famílias e da comunidade.

Assim, a especialidade trata os pacientes em todas as fases da vida. O tratamento envolve gestação, infância e velhice.

Para alguns especialistas, o médico de família é, na verdade, uma reinterpretação daquele médico do passado que cuidava de todos da casa. Alguém de referência para tratar da sua saúde. 

Campos de atuação do médico de família

O especialista em MFC pode atuar em diversos cenários, tais como:

  • Unidades Básicas de Saúde (UBS): prestação de cuidados primários à saúde da comunidade.
  • Programas de saúde pública: participação em iniciativas governamentais voltadas para a promoção da saúde e prevenção de doenças.
  • Educação e pesquisa: envolvimento na formação de novos profissionais e desenvolvimento de pesquisas na área da atenção primária.

A Atenção Primária à Saúde (APS) é a base do Sistema Único de Saúde (SUS). É na APS que os médicos especialistas em Medicina de Família e Comunidade atuam para o acompanhamento de doenças mais frequentes, como diabetes, hipertensão e tuberculose. 

Na Equipe de Saúde da Família (ESF) com a comunidade permite que se conheça melhor o cidadão, garantindo maior adesão aos tratamentos e às intervenções médicas propostas.

Assim, neste nível de atenção, é possível resolver cerca de até 80% dos problemas de saúde, sem a necessidade de intervenção na emergência de Unidades de Pronto-Atendimento (UPA 24h) ou de hospitais.

Importância da residência em MFC no SUS

Daí, o importante papel do médico de família para atuação nas unidades de saúde da família com o objetivo de promover a qualidade de vida da população e intervir nos fatores que colocam a saúde em risco.

Entre esses fatores estão falta de atividade física, má alimentação, uso de tabaco, dentre outros. Outro papel importante é trazer para perto da comunidade serviços como consultas médicas, exames, vacinas, radiografias e pré-natal para gestantes.

A residência em MFC desempenha um papel crucial no fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), uma vez que os médicos de família são fundamentais para a organização e a efetividade da atenção primária.

Eles atuam como coordenadores do cuidado, garantindo que os pacientes recebam atendimento adequado e contínuo.

Desafios enfrentados na residência em MFC

Apesar de sua importância, a residência em MFC enfrenta alguns desafios, como:

  • Baixa procura pelos programas: muitos programas de residência em MFC ainda apresentam vagas ociosas, apesar do aumento na oferta.
  • Reconhecimento profissional: a especialidade ainda busca maior valorização e reconhecimento no meio médico e pela sociedade.
  • Infraestrutura e recursos: algumas unidades de saúde enfrentam limitações estruturais e de recursos, impactando a prática dos residentes.

Outras dúvidas sobre a Residência em Medicina da Família

Confira outras dúvidas e informações sobre a Especialidade.

Diferenças para o clínico

A diferença para o clínico geral está no fato de o clínico tratar apenas adultos. A atuação mais abrangente é do médico de família, que cuida do indivíduo como um todo.

O conceito é de que a saúde não simplesmente a ausência de doenças, mas também está relacionado com o bem-estar, com o meio em que vive e suas relações com trabalho.

Quando tratamos de um paciente, olhamos o todo: as condições onde ele mora, se tem saneamento em casa, se tem acesso à informação. Olhamos tudo e às vezes o paciente nem precisa de remédio, só precisa de uma conversa e nós estamos lá para isso

Programa Médicos pelo Brasil exige especialização

É como este argumento que o Governo federal lançou o programa Médicos pelo Brasil, em substituição ao Mais Médico que passar a ter a obrigatoriedade da residência de Medicina da Família e Comunidade.

Com a promessa de abrir 18 mil vagas, o programa pretende ampliar a oferta de médicos especialista em locais de difícil provimento ou de alta vulnerabilidade.

O programa contemplará duas funções: médicos de família e comunidade, e tutor médico. Para a função de Médico de Família e Comunidade, serão selecionados médicos com registro no Conselho Federal de Medicina (CFM).

Se aprovados na prova escrita, serão alocados em USF pré-definidas pelo Ministério da Saúde para realização do curso de especialização em Medicina de Família e Comunidade.

Para a função de Tutor Médico serão selecionados especialistas em Medicina de Família e Comunidade ou de Clínica Médica com CRM.

Nessa modalidade, os profissionais aprovados na prova escrita já ingressam, por meio de contratação via CLT, e ficam responsáveis pelo atendimento à população nas USF a que foram designados e pela supervisão dos demais médicos ingressantes no Programa Médicos pelo Brasil, durante o período do curso de especialização.

Saúde Suplementar investe na Medicina da Família

Enquanto a Medicina da Família e Comunidade é a base do SUS, a saúde suplementar começa a apostar neste modelo para frear o alto custo principalmente de exames, nem sempre baseados nas evidências.

Os maiores planos de saúde do país já se movimentam para adotar a medicina de família onde o paciente deve ser inicialmente atendido.

A redução dos custos, que se traduz em sustentabilidade dos convênios, ocorre na medida em que elimina desperdícios com exames em excesso, resultado de uma consulta mais qualificada e uma atenção integral ao paciente.

Convênios investem na atenção primária

O investimento na atenção primária à saúde também pelos convênios médicos faz surgir inúmeros espaços e clínicas especializados que privilegia a prevenção e educação em saúde.

 Este movimento representa uma abertura do mercado de trabalho, embora o Ministério da Saúde assegure que há baixa adesão à residência médica de medicina da família e comunidade. Em 2018, foram ofertadas 3.587 vagas e apenas 1.183 foram preenchidas.

Saiba um pouco da história da especialidade

Você sabia que desde a década de 1970 já existia a especialidade de Medicina da Família?. Pois é, data de 1975 um projeto de Sistema de Saúde Comunitária.

Segundo a Sociedade Brasileira de Medicina da Saúde e Comunidade, em 1976 surgiram os primeiro programas de residência no Rio Grande do Sul, Pernambuco e Rio de Janeiro.

Os programas eram chamados de residência em Medicina Geral Comunitária (MGC), nome que vigorou até 2002, quando a residência passou a ser chamada de Medicina da Família e Comunidade.

Em 1981, a Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) formalizou os PRM em Medicina Geral Comunitária, oficializando esta área como uma especialidade no Brasil, mesmo ano em que foi fundada a Sociedade Brasileira de Medicina Geral Comunitária (SBMGC), com sede em Petrópolis – RJ

Os programas se espalharam ao longo dos anos chegando até a serem alvos de críticas dos próprios médicos.

Em 1988, as críticas foram intensificadas da “corporação médica” e da “Direita” (considerando a área como “Medicina de Comunista”, estatizante) quanto da ABRASCO, dos sanitaristas e da “Esquerda” (entendendo a MGC como a “Medicina de Família americana disfarçada” da época – modelo “saúde pobre para gente pobre”, “tampão social”.

Em 1990 foi o criado o SUS e, em 1994, foi criado o Programa de Saúde da Família. A partir do PSF e de outras iniciativas, as áreas voltadas à Atenção Básica em Saúde se expandiram muito.

Numa velocidade bem maior que a capacidade de formação de pessoal, criam-se especializações, cursos de curta duração, Pólos de Capacitação, entre outros, nem sempre com a qualidade desejada. Ocorreu também o estímulo às mudanças no ensino à graduação.

Conclusão

A residência em medicina da família e comunidade é uma especialidade essencial para a consolidação de um sistema de saúde eficiente e humanizado.

Apesar dos desafios, oferece amplas oportunidades de atuação e contribui significativamente para a promoção da saúde e bem-estar da população. Investir nessa formação é fundamental para o fortalecimento da atenção primária no Brasil.

Gostou de saber uma pouco mais desta especialidade? Então, acompanhe o blog do MedProvas e fique ligado nestas e em outras informações importantes.